
O que realmente definiu o rock foi a distorção. A rudeza e agressividade do som eram o veículo de transmissão da nova forma de viver da geração rebelde dos anos 60. Autênticas atrocidades eram feitas: para conseguir um som saturado (antes da invenção dos pedais) usou-se o som da saída do amplificador ligada à entrada de outro e houve até quem rompesse também os altifalantes!..
Os Led Zeppelin ficaram conhecidos como os inventores do rock pesado: Frases rápidas com fuzz dobradas pelo baixo, vozes saturadas, ambientes estranhos criados durante as gravações, técnicas bizarras de captação… obra de Jimmy Page.
No entanto, durante a segunda metade dos anos 60, há um mundo paralelo chamado psicadelismo. Essa corrente, ainda hoje controversa, pode designar-se por um estilo de música criada através do uso de alucinogénios. Os resultados são, segundo os entendidos, apenas descodificados se o ouvinte estiver sob efeito das mesmas substâncias. Não pretendo alongar-me muito nesta matéria, pois talvez dê tema para uma tese. No entanto deixo aqui a informação que o psicadelismo tem precedentes na música com 4000 anos…
Dentro desta corrente podemos colocar Jimi Hendrix, The Doors e os Pink Floyd com Syd Barrett. No caso desta última banda, o eco foi a grande arma. Depois de Syd enlouquecer com o abuso de LSD, a banda chama um amigo chamado David Gilmour para o seu lugar. Pink Floyd nasce do psicadelismo para emergir numa música “espacial” que leva o ouvinte a viajar para ambientes imaginários. O uso das influências da sua génese e o conjugar de todo o material novo que ia surgindo (sintetizadores, novos pedais para guitarra, novos efeitoa de luz e imagem, etc) criava um espectáculo inconfundível. Embora mal recebido e compreendido naquele tempo, o álbum “Animals” é algo impossível de voltar a ser feito de novo! Roger Waters (baixista, compositor, letrista e cantor) influenciado pela obra “Triunfo dos porcos” de Orwell, liga o modo de vida de determinados animais a géneros de personalidade de grupos sociais. Como exemplo cito o tema “Sheep” que é uma dura crítica à “mentalidade de rebanho” e à apatia de alguns extractos da sociedade. Neste álbum podemos ouvir o trabalho ímpar de Gilmour ao fazer a guitarra soar a um porco, assim como Wright (teclista) fez os teclados soarem ao ladrar de um cão.
Agora lembremo-nos que Hendrix só tinha morrido há sete anos… tudo tinha mudado!
De um simples conjunto simples de pedais usados de forma corrente por outros guitarristas, Gilmour usava mais de dez naquele tempo. Nos anos setenta tinha:
Dallas Arbiter Fuzz Face
Electro Harmonix Big Muff
MXR Phase 90
Electro Harmonix Small Stone
Electro Harmonix Electric Mistress
Pete Cornish (ST-2)
Cry Baby
MXR Dynacomp
Pete Cornish Tone pedal
Pete Cornish volume pedal
MXR Noise Gate/Line Driver
MXR Digital Delay System I
Boss CE-2 Chorus
Conn Strobo tuners, entre outros…
Nos anos oitenta criou o sistema mais complexo alguma vez feito. Tão extenso que eu teria sérias dificuldades ao tentar explicar aqui. Imaginem apenas um som imponente num concerto feito em cima de água, sem qualquer tipo de ligação à terra! Um concerto só para quem tinha barco em Veneza!
É complicado falar de efeitos depois de Hendrix, pois há muita cadeia de efeitos que podíamos analisar aqui: Mark Knopfler, Satriani, Steve Vai, Yngwie Malmsteen, etc e etc! Os anos oitenta foram uma época de grandes avanços e retrocessos para o som em geral! A era digital entra no caminho com promessas de ter tudo numa só unidade! Asneira!
Só agora, começamos a ter simuladores toleráveis com a tecnologia COSM, os POD, entre outros. Para quem defende o digital eu pego num exemplo do artigo anterior: se antes tínhamos o fumo frio (rasteiro, belo, espacial, mas dispendioso e até perigoso para quem o produzia em tempo real) e hoje substituído pelo fumo quente (que sobe desordenado, dependente do lado que sopra o vento e cheira mal) mas barato e manuseável por qualquer indigente mental que consiga premir um botão…
Será que o gosto pelo que é antigo (vintage) é apenas saudosismo? Purismo? Mania? Moda? Uma questão cultural?
Concluindo: há efeitos para guitarra, efeitos sonoros para filmes e teatros, há efeitos de luz e imagem e há raros músicos que conjugam tudo isto numa forma de arte superior!