NOVA MÚSICA PORTUGUESA

Numa altura tão perturbadora para quem vive em Portugal deparo-me com um país vazio: vazio de conceitos e cheio de preconceitos!

A indústria da música portuguesa afunda-se um pouco todos os dias... não se vendem discos, poucos concertos se fazem e para melhorar temos os ícones estrangeiros a ocupar lugar nos cartazes dos festivais de Verão!
"Azar!", "a música portuguesa não presta", "Inglês é mais fixe!"...
Pode ser... mas lembrem-se os "putos" (que vivem neste país) que têm de falar e escrever português em Portugal!
Quando precisarem de emprego e lhes fecharem as portas (como fizeram à música portuguesa) lembrem-se de pedir trabalho aos estrangeiros ou aos "falsos artistas" de fora que fizeram enriquecer estupidamente!

Como disse o músico Paco Bandeira um dia na Antena 1: "...temos de ser portugueses erguidos e não de rastos!"

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

YNGWIE J. MALMSTEEN - O Guitarrista do Diabo -

Num dia Mundial da Música, cujo último dia do mês culmina com a noite das bruxas, nada melhor do que um dos músicos mais controversos dos nossos tempos!...

Se há algum músico odiado neste mundo será Lars Johan Yngve Lannerbäck, vulgarmente conhecido como Yngwie Malmsteen.
Bastante influenciado por Hendrix, este guitarrista mistura a atitude do rock com o barroco. Inovou pela sua postura em palco e pela música, que foi uma novidade momentaneamente impossível de deslindar.
Quando ouvi este músico pela primeira vez fiquei abismado com a clareza e sentimento a tão alta velocidade. Os seus concertos irradiavam vida de forma quase violenta, a guitarra parecia tocar sozinha, ele tocava com os dentes e atrás das costas enquanto corria de um lado ao outro do palco. As suas exibições com eco eram fantásticas e os sons que tirava antes de destruir a guitarra eram enigmáticos. Muitos se questionaram sobre a génese daquela técnica sobre-humana e os efeitos que ele produzia ao vivo. O Malmsteen durante a maior parte da sua carreira dizia que ligava apenas a sua guitarra ao amplificador em conjunto com uns ecos e pouco mais. Seria verdade?

A MÚSICA
Antes do material, teremos de abordar brevemente a vertente teórica da sua forma de tocar. Yngwie não era o típico guitarrista da escala pentatónica, ele tirou de ouvido Bach, Vivaldi e emulou a técnica de violino de Pagannini. Malmsteen criara técnicas inéditas na guitarra, tais como o “varrimento das cordas” (sweep picking), notas de pedal (pedal point), etc. A sua escala base é a tradicional pentatónica fundida com a menor harmónica e o modo frígio a mil à hora. Tudo isto conjugado com o domínio de harpejos de seis, cinco, quatro, três e duas cordas!
Os seus inícios de solo são obras ao estilo barroco com sequências harmónicas muito bem construídas e com um grau de complexidade ainda hoje acima da média.
Yngwie J. Malmteen ainda hoje não sabe ler música e nunca teve uma única aula de guitarra…

AMPLIFICADORES
YJM, é um purista! Usa cabeças a válvulas antigas feitas à mão, sem recurso a máquinas: Marshall MK2 e PLEXI 1959. Ele sabe que só estes ampificadores dão a saturação que quer: o músico garante que estas cabeças têm um som mais quente e não crispam o som. Nos seus concertos chega a usar mais de vinte e quatro amplificadores e para cima de vinte sete cabines 4x12 com altifalantes Celestion G12 de 30W.
Várias empresas contactaram o músico para lhe construir um modelo de assinatura ao que lhe respondia que preferia pagar um Marshall do que ter qualquer outro de borla!

GUITARRAS
O Malmsteen usa Fender Stratocaster para dextros invertida ao estilo de Hendrix. A escala é escavada em cada trasto para facilitar os “bendings”, tornado-a mais difícil de tocar. Os três captadores são Dimarzio HS-3 de ganho muito baixo e com os agudos um pouco abafados. Tanto os HS-1, HS-2 como os HS-3 existem graças a ele. Steve Lukather e Larry Dimarzio achavam que não seria fácil colocar uma bobine no topo uma da outra (sugestão de YJM) mas a prova está à vista: cortou-se uma boa parte do ruído e conseguiu-se ajudar a equilibrar o exesso de agudos do seu som saturado.
Yngwie tem usa também Gibsons no estúdio (secção rítmica) e Ovation acústica (normalmnte comprimida por um pedal MXR Dyna Comp).
Uma curiosidade prende-se ao facto de Yngwie Malmsteen ter sido o primeiro guitarrista a ter guitarra de assinatura na Fender!
Em Portugal, um fã levou-lhe uma IBANEZ para ele assinar e no lugar do autógrafo escreveu: “Buy a FENDER!”

CORDAS
YJM têm três conjuntos de cordas com o seu nome: Yngwie's Magic, Yngwie's Ball End e Yngwie Approved set. O calibre do jogo de cordas é: .008 -.011 -.014 -.022 -.032 -.046. Também Malmsteen mistura vários calibres, o que torna claro uma certa influência de Hendrix.

EFEITOS
Para muitos, Malmsteen não têm grande ciência no seu som, mas será?
Durante largos anos não se sabia de onde vinha o som saturado da sua guitarra. Havia fotos tiradas ao palco por membros da audiência e até por roadies… e realmente ele não usava pedais de distorção.
Nas fotos via-se um Cry baby, um Flanger da VOX, um controlador Bob Bradshaw para as unidades de rack , um supressor de ruído e um Moog Taurus (esta estranha unidade baseia-se nas pedaleiras dos órgãos de tubos, tocando-se da mesma maneira. Não é um efeito de guitarra mas um sintetizador cujas notas se tocam com os pés. Permitia assim tocar as notas graves que melhor se adaptassem à sua exibição a solo na guitarra). Este era um dos seus segredos!
Noutras fotos via-se também um banal OC da BOSS que permitia dobrar a nota tocada, uma oitava ou duas a baixo. Era desta forma que Yngwie nos fazia pensar que o que estava a tocar era tocado também pelo teclista. Nem sempre era!
Uma da malabarices que ele fazia era usar o eco com longas durações. Desta forma ele conseguia simular uma fuga ao estilo de Bach completamente sozinho. Além de conseguir compor fugas em tempo real, ainda o fazia usando uma técnica complicadíssima de cortar o ataque das notas rodando o potenciómetro de volume (sweel).
Antes de destruir a guitarra, Yngwie criava uns efeitos estranhíssimos. A guitarra atingia agudos intoleráveis para de seguida parecer que explodia. Esses agudos parecem ser feitos com um Octavia do Jimi Hendrix e o wha completamente aberto. O restante era um truque com uma velha câmara de eco a fita (Roland DC 10): com o volume /repetições no máximo e o rodar do potenciómetro do “feedback” criava sons demolidores ampliados pelo facto de nesse momento a guitarra ser partida em mil bocados!
E agora vamos ao último e o mais importante segredo...

Tal como foi supracitado, durante uma década ou duas parecia não existir pedais de distorção na sua rota de sinal, mas era mito! É inegável a mudança entre os seus primeiros trabalhos e o album Marching Out (1985), assim como se nota ainda novas mudanças entre o Eclipse (1990) e o Magnum Opus (1995). E não fica por aqui!...
Quando Yngwie abandona a Suécia e chega aos Estados Unidos entra nos Steeler (1983) e na banda Alcatrazz. Percebe-se que ele ainda andava à procura do seu som: pouco ganho, as suas frases de guitarra ainda não tinham surgido e mesmo a estrutura harmónica era estranha. Talvez nem tivesse pedais... podia ser um som tipo AC DC. No entanto ele já tinha um DOD 250 (versão cinzenta) sempre ligado e escondido!
O 250 é um pedal que satura o som à entrada do pré-amplificador (e se forem ver reparam que no original está escrito “preamp”). Tem um som bastante aberto, notando-se a técnica do guitarrista como se o som passasse por uma janela aberta. Surpreendentemente é o saturador com menos ganho que alguma vez toquei, é quase impossível imaginar sequer tocar rápido com o DOD. No entanto, garanto que é o que ele usa! É o timbre dele... mas não é um YJM numa caixa!
Basta ouvir o album “Rising Force” (1984) para terem uma boa noção do DOD 250 e também para servir de eixo de comparação com trabalhos posteriores, nomeadamente o “Eclipse” (1990). O som ficou mais cheio e parece ter mais ganho... e segundo me parece vai aumentando até atingir o topo do seu melhor: “Magnum Opus” (1995). Entre 90 e 95 tenho a sensação que houve mais qualquer coisa além do DOD. Basta que tenha puxado mais pelas cabeças Marshall de 50W para ter obtido mais corpo, ganho e compressão...
Infelizmente, como é habitual, grandes artistas têm um momento de queda do qual raramente recuperam... desde 1997 Malmsteen cai em queda livre! O seu som e música deteora numa perfeita harmonia com problemas de ordem afectica, judicial e de saúde... e com o lançamento do seu pedal de assinatura: DOD YJM308 (número do seu estúdio).
Este objecto (uma suposta cópia do DOD original sem ruído) começa a aruinar o som do guitarrista a par com a nova mania do sueco em querer que tudo da sua técnica se ouça! Resultado: um som muito agudo que torna a apreciação da música muito penosa.
Relativamente ao seu último album (2008), sabe-se que está a largar o DOD308 e regressar ao DOD250... um susto de ordem cardíaca levou o músico fazer uma forte dieta, a deixar de fumar (entre outros vícios) e mudar um pouco o seu ego, reconciliando-se com antigos companheiros da música!...

Houve quem lhe perguntasse porque não muda de estilo ou se moderniza... YJM responde que não consegue ignorar tudo o que sabe de música e a técnica que tem e desenvolveu, para agora esquecer tudo e começar a fazer temas tipo Cold Play...

SUGESTÕES:
O album favorito do próprio Malmsteen é o “Trilogy” (1986) que já merecia uma remasterização. Podemos ouvir aqui melhor fase deste músico! **** (4/5)

Em 1995 inaugura o seu estúdio com “Magnum Opus”. Tanto eu como o seu gerente de carreira partilhamos a opnião de que é o album mais bem produzido que tem. A guitarra está no seu melhor, é o conjunto de músicas mais “progressivas” que fez até hoje... (o disco começa com uma Strat modificada para cordas de nylon com captador piezo!) **** (4/5)

O sonho de Yngwie: “Concerto Suite for Electric Guitar and Orchestra in E flat minor, Opus 1”. A mais subtil nota de cada instrumento foi composta pelo músico, inclusivamente do côro!... Como ele não sabia escrever em pautas ditava cada melodia ao seu teclista para passar no papel. Uma obra de arte! ***** (5/5)